Especial: Destaque na COP-30
Projeto do campus impulsiona restauração ecológica na Mantiqueira e envolve estudantes e produtores rurais
A Serra da Mantiqueira, um dos principais reservatórios naturais de água do país, vem ganhando novos contornos graças a um projeto que une ciência, educação e participação comunitária. Coordenado pela professora Lílian Vilela Andrade Pinto, o projeto “Serra da Mantiqueira: ações para restauração de paisagens desmatadas”, desenvolvido pelo IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes, tem transformado áreas degradadas e fortalecido a conservação de recursos naturais em municípios da região.
A iniciativa ganhou destaque nacional após aparecer em uma reportagem especial da EPTV durante a cobertura da COP-30. Segundo a professora, a visibilidade reforçou o impacto das práticas adotadas e ampliou o interesse de instituições e produtores em participar das ações.
O trabalho envolve uma combinação de diagnóstico ambiental, plantio de mudas nativas, regeneração natural, semeadura direta por MUVUCA de sementes e ações de saneamento rural. A seleção das áreas é guiada por georreferenciamento, priorizando nascentes, APPs degradadas e locais com alto risco de erosão. “Nosso objetivo é promover paisagens mais saudáveis e resilientes às mudanças climáticas”, explica Lílian.
Os produtores rurais são parte essencial da iniciativa: solicitam os diagnósticos, acompanham as intervenções e assumem a manutenção das áreas restauradas. Muitos recebem capacitação e incentivos como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). A comunidade participa de plantios, eventos e atividades educativas, fortalecendo a relação com o território.
Entre 2019 e 2024, os resultados impressionam: 61,74 hectares restaurados, mais de 51 mil mudas plantadas, 108 diagnósticos realizados e 64 propriedades regularizadas, além de barraginhas, biodigestores e estruturas de manejo instaladas. A estimativa é de mais de 13 mil toneladas de CO₂ sequestradas em 20 anos. Em 2025, as ações foram ampliadas, com novos recursos, mais frentes de restauração e fortalecimento das atividades de campo.
Outro destaque é a participação dos estudantes, que vivenciam todas as etapas do processo — do diagnóstico ao monitoramento — e se preparam para atuar como profissionais multiplicadores da restauração ecológica.
Para Lílian, iniciativas como essa mostram que é possível transformar paisagens e comunidades. “A restauração ecológica é essencial para assegurar água, biodiversidade e resiliência climática. Unindo ciência, comunidade e educação, construímos um futuro mais sustentável.”
Leia a entrevista completa com a Professora Lílian Vilela de Andrade Pinto
1. Professora Lílian, para começarmos, como a senhora descreve o projeto “Serra da Mantiqueira: ações para restauração de paisagens desmatadas” e seu propósito central?
O projeto tem como propósito principal recuperar áreas degradadas e fortalecer a conservação dos recursos naturais na Mantiqueira, uma região essencial para a produção de água e manutenção da biodiversidade. Ele integra ações de diagnóstico ambiental, restauração florestal, saneamento rural, capacitação técnica e Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), unindo conhecimento científico, atuação comunitária e políticas públicas. Nosso objetivo é promover paisagens mais saudáveis, produtivas e resilientes às mudanças climáticas.
2. A Serra da Mantiqueira é reconhecida como uma das regiões mais importantes do país em biodiversidade e recursos hídricos. O que torna essa área tão estratégica para ações de restauração?
A Mantiqueira é um dos grandes “berços d’água” do Brasil, abastecendo importantes bacias hidrográficas, como a Bacia do rio Grande. Além disso, abriga remanescentes de Mata Atlântica com alta biodiversidade e forte pressão do uso agropecuário. Restaurar a Mantiqueira significa proteger nascentes, melhorar a infiltração de água no solo, reduzir erosão, conservar espécies nativas e mitigar emissões de carbono. É uma área estratégica tanto do ponto de vista ambiental quanto socioeconômico.
3. Como surgiu a ideia de desenvolver esse projeto no IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes? Houve uma demanda regional ou uma iniciativa acadêmica interna?
A iniciativa nasceu da adesão do IFSULDEMINAS ao Plano Conservador da Mantiqueira e da demanda regional por apoio técnico. O campus estruturou uma metodologia integrada para atender produtores rurais e fortalecer políticas públicas ambientais.
4. O projeto ganhou grande visibilidade ao ser destaque em uma reportagem especial da EPTV, afiliada da TV Globo, durante a cobertura da COP-30. Como foi essa experiência e qual a importância dessa exposição para a iniciativa?
Foi uma oportunidade valiosa de mostrar ao grande público o impacto das ações de restauração. A exposição reforçou a relevância científica e social do projeto e ampliou o reconhecimento regional das práticas adotadas.
5. Que aspectos do projeto a senhora acredita terem motivado o interesse da EPTV e do público em geral?
Acredito que três elementos chamaram atenção: 1o) Os resultados concretos: áreas restauradas, milhares de mudas plantadas, barraginhas, cercas e melhorias ambientais visíveis; 2o) O impacto social: produtores rurais recebendo apoio técnico, segurança hídrica, renda extra via PSA; 3o) A participação dos estudantes: jovens atuando no campo, aplicando ciência e transformando realidades.
6. Quais metodologias e técnicas de restauração ecológica o projeto utiliza nas áreas degradadas da Mantiqueira?
Utilizamos o plantio de mudas nativas da mata atlântica, regeneração natural assistida e semeadura direta por meio da MUVUCA de sementes. Todas as ações são acompanhadas por monitoramento técnico contínuo.
7. Como é feito o processo de seleção das áreas prioritárias para restauração?
A escolha é feita com base em diagnósticos ambientais, priorizando nascentes, APPs degradadas, risco de erosão e potencial de conectividade florestal. O georreferenciamento orienta as intervenções adequadas.
8. O projeto conta com a participação ativa da comunidade local e de produtores rurais. Como se dá esse envolvimento e qual é o papel desses parceiros?
Os produtores são protagonistas do processo. Eles solicitam o diagnóstico, participam do planejamento, acompanham as ações e são responsáveis por manter as áreas restauradas.Também recebem capacitação, apoio para saneamento rural, estruturas de manejo e, em muitos casos, o PSA como incentivo financeiro. A comunidade participa de eventos, plantios e ações de educação ambiental, fortalecendo o sentimento de pertencimento.
9. Quais são os maiores desafios enfrentados tanto no campo técnico quanto no campo social ao realizar ações de restauração na Serra da Mantiqueira?
Tecnicamente, enfrentamos solos degradados, períodos secos e falta de mão de obra para execução das ações de cercamento, plantio e manutenção das áreas restauradas. Socialmente, o desafio é sensibilizar produtores, superar limitações financeiras e transformar a restauração em prática contínua.
10. O projeto envolve estudantes do IFSULDEMINAS. De que forma essa participação contribui para a formação acadêmica e profissional deles?
Os estudantes vivenciam todas as etapas da restauração: diagnóstico em campo, geoprocessamento, plantio, monitoramento e elaboração de relatórios. Isso amplia competências técnicas, fortalece a pesquisa aplicada e prepara profissionais mais conscientes e qualificados. Muitos realizam estágios, TCCs e recebem bolsas, o que potencializa sua formação acadêmica.
11. Existem parcerias com instituições ambientais, governos locais ou organizações não governamentais? Como essas alianças fortalecem o trabalho?
Sim, o projeto envolve prefeituras, The Nature Conservancy, Copasa (Promananciais), Projeto Raízes do Mogi, iniciativa Growing Together/Comexim, IEF, EPR-Sul de Minas e viveiros públicos. Essas alianças garantem recursos, capacitação e apoio técnico essencial para ampliar os resultados.
12. Com a visibilidade obtida na COP-30, surgiram novas oportunidades ou convites para expandir o projeto?
Sim. A visibilidade gerou maior procura por parte de instituições, novos convites para eventos e interesse em expandir ações de restauração na região.
13. Quais resultados práticos já foram alcançados em termos de recuperação ambiental, produção de mudas, engajamento comunitário ou monitoramento das áreas restauradas?
Entre 2019 e 2024 realizamos 108 diagnósticos, regularizamos 64 propriedades e restauramos 61,74 ha, com mais de 51 mil mudas plantadas. Também instalamos barraginhas, cercas, biodigestores e estimamos o sequestro de mais de 13 mil toneladas de CO₂ em 20 anos. Além disso, houve formação de mais de 60 estagiários, produção científica, eventos e fortalecimento das comunidades rurais. Em 2025, houve uma ampliação substancial das iniciativas de restauração, conservação do solo e instalação de biodigestores, tornando-se um marco na intensificação das atividades em campo e na obtenção de recursos essenciais ao projeto.
14. O que ainda falta avançar na região da Mantiqueira para que a restauração se torne uma prática mais ampla e contínua?
É necessário ampliar incentivos financeiros como PSA, fortalecer viveiros regionais, acelerar a regularização ambiental e assegurar continuidade das políticas públicas.
15. Pensando no futuro, quais são os próximos passos e metas do projeto para os próximos anos?
Expandir o número de propriedades atendidas, fortalecer a Unidade Demonstrativa, ampliar pesquisas e consolidar parcerias para financiamento contínuo das ações. Um ponto central será intensificar a formação prática dos alunos, preparando-os para atuar como profissionais multiplicadores capazes de disseminar, após formados, as técnicas, estratégias e princípios de restauração, conservação do solo e saneamento ambiental rural nas regiões onde vierem a atuar, ampliando o impacto social e ambiental do projeto.
16. Para finalizar, qual mensagem a senhora gostaria de deixar sobre a importância da restauração ecológica em tempos de mudanças climáticas e como iniciativas como esta contribuem para um futuro mais sustentável?
A restauração ecológica é fundamental para garantir água, biodiversidade e resiliência climática em um cenário de mudanças intensas. No projeto, a participação ativa dos alunos demonstra como a educação pode transformar territórios, formando profissionais conscientes e tecnicamente qualificados. O IFSULDEMINAS reafirma seu compromisso com o desenvolvimento regional ao unir ciência, comunidade e conservação para construir um futuro mais sustentável.
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