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Escrito por José Valmei Bueno | Publicado: Sexta, 04 de Março de 2022, 08h18 | Última atualização em Terça, 17 de Maio de 2022, 07h13
Tamiris Rocha Fanti Raimundo no Laboratório de Farmacologia da Reprodução e Andrologia, da UNESP. (Foto: Reprodução)
Tamiris Rocha Fanti Raimundo no Laboratório de Farmacologia da Reprodução e Andrologia, da UNESP. (Foto: Reprodução)

Pesquisa desenvolvida por ex-aluna poderá levar à descoberta de anticonceptivo masculino

Uma pesquisa desenvolvida pela ex-aluna do curso de Licenciatura em Biologia do IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes, Tamiris Rocha Fanti Raimundo, está ganhando repercussão nacional. O estudo desenvolvido pela pesquisadora investiga a fertilidade masculina, particularmente a capacidade do espermatozoide “nadar” até o óvulo. O resultado poderá ser a produção de contraceptivos masculino.

A pesquisa já foi publicada em revistas científicas como a Galileu, Veja e Agência Fapesp.

Recentemente, Tamiris concluiu o mestrado no Programa de Farmacologia e Biotecnologia no Instituto de Biociências da UNESP (Universidade Estadual Paulista), Campus Botucatu (SP), na qual desenvolveu uma pesquisa no Laboratório de Farmacologia da Reprodução e Andrologia, sob a orientação do professor e Doutor Erick José Ramo da Silva. A pesquisa também contou com a participação dos pesquisadores Alan Andrew dos Santos Silva, Noemia Aparecida Partelli Mariani e Alexandre Dorth de Andrade.

Nesta entrevista, a ex-aluna do IFSULDEMINAS conta sobre o seu trabalho.

1. Sua pesquisa versa sobre qual tema?

Nossa pesquisa é na vertente da contracepção masculina, cujo foco principal é a proteína EPPIN, sigla em inglês para proteína inibidora de protease epididimária. Esta proteína está localizada na superfície dos espermatozoides humanos e de camundongos. Sua função principal é modular a motilidade dos espermatozoides, ou seja, sua capacidade de nadar até o óvulo. Neste estudo buscamos investigar os mecanismos pelas quais a EPPIN atua modulando a função espermática, bem como seus impactos na capacitação e no potencial fértil de espermatozoides de camundongos.

2. Por que resolveu desenvolver tal pesquisa?

A proteína EPPIN é uma proteína espermática alvo para a contracepção masculina, devido ao seu papel essencial na motilidade dos espermatozoides. Na superfície do espermatozoide ejaculado humano, a EPPIN atua inibindo na motilidade após a ejaculação pela interação com a proteína semenogelina-1 (SEMG1) que está presente no sêmen. Anticorpos anti-EPPIN mimetizaram o efeito inibitório da SEMG1 sobre a motilidade espermática, demonstrando que a função da EPPIN pode ser manipulada farmacologicamente. No entanto, os mecanismos de ação da EPPIN no controle da motilidade espermática, bem como o seu envolvimento em outros eventos associados à função do espermatozoide ainda carecem de elucidação. Isso despertou nosso interesse em estudar mais sobre a os mecanismos pelas quais a EPPIN modula as funções espermáticas.

3. Qual método é usado?

Nesta pesquisa utilizamos uma metodologia baseada em reconhecimento e ligação de anticorpos contra a proteína EPPIN, chamados anticorpos anti-EPPIN. Esses anticorpos reconhecem sequencias específicas da proteína EPPIN e modula as suas funções no espermatozoide. Em pesquisas anteriores, macacos que receberam vacinas de EPPIN humana recombinante [produzidas em laboratório por microrganismos geneticamente modificados] desenvolveram anticorpos capazes de se ligar a essa proteína, resultando em infertilidade masculina por atrasar a liquefação do sêmen. Isso comprovou que a EPPIN está relacionada ao controle da motilidade do espermatozoide. Esses resultados demonstram que os anticorpos anti-EPPIN são ferramentas eficazes para o estudo das funções da EPPIN. Nosso estudo utilizou animais de laboratório para os testes.

Além disso, utilizamos técnicas que nos permitiram avaliar a motilidade do espermatozoide e outros parâmetros funcionais como a capacidade de fertilizar o oócito.

4. Você conta com parceiros? Quais?

Durante a pesquisa contamos com vários parceiros, dentre eles a Prof. Dra Fabíola de Paula Lopes e o Prof. Dr. Marcelo Tigre Moura do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Também contamos com a colaboração da Prof Dra. Maria Christina Avellar do Departamento de Farmacologia da UNIFESP. Além disso, contamos com a parceria do Prof. Dr. Mariano Buffone do Instituto de Biología y Medicina Experimental do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas, da Argentina.

5. Que resultados sua pesquisa já mostra?

Usando anticorpos anti-EPPIN como ferramentas farmacológicas, nosso estudo mostrou que a EPPIN desempenha um papel importante na modulação da motilidade dos espermatozoides de camundongos. Os efeitos negativos dos anticorpos anti-EPPIN nos parâmetros de motilidade foram associados a uma deficiência na capacidade de fertilização do espermatozoide, demonstrando ainda que o bloqueio da EPPIN na superfície espermática diminui a fertilidade masculina. Dessa forma, fornecemos novas evidências de que a EPPIN pode estar envolvida em outros eventos espermáticos além do controle da motilidade. Em conjunto, essas observações contribuem para expandir os mecanismos potenciais pelos quais a EPPIN pode ser explorada como um alvo farmacológico de contracepção masculina não hormonal.

Tamiris, junamente com a Equipe do Laboratório, além de alunos de Iniciação científica e uma aluna de intercâmbio da Polonia.

6. Sua pesquisa está sendo publicada em diversos meios de comunicação. A que você aplica o interesse na publicidade de sua pesquisa?

Acredito que o interesse na publicidade dessa pesquisa se dá pelo fato de que atualmente os homens possuem opções contraceptivas limitadas ao preservativo e à vasectomia. Neste contexto, apesar de diversas pesquisas terem descoberto diferentes estratégias farmacológicas hormonais e não-hormonais que promovem bloqueio reversível da fertilidade masculina, observou-se que aquelas estratégias que possuem o espermatozoide como alvo contraceptivo têm o potencial de produzir efeito rápido, reversível, seguro, e sem as desvantagens típicas de flutuações dos níveis hormonais. Nesse contexto, nosso projeto se destaca, pois tem como foco principal uma proteína espermática que emerge como um alvo promissor para o desenvolvimento de novos fármacos contraceptivos masculinos capazes de inibir as funções espermáticas, prevenindo que os espermatozoides alcancem o local de fertilização.

7. Qual a importância social de sua pesquisa?

Nossa pesquisa se faz importante porque apesar da vasta disponibilidade de métodos de contracepção feminina disponíveis hoje no mercado, a taxa de gestação não-planejada ainda ocorre em cerca de 40% das gestações, dentre as quais metade é interrompida por abortos induzidos. O acesso a métodos contraceptivos é crucial dentro de escopo de ações que visam melhorar o planejamento familiar e reduzir a taxa de gestações não planejadas, gerando efeitos positivos na saúde da família. Nesse contexto, a entrada de novos métodos de contracepção, em especial os masculinos, contribuirá positivamente para a melhoria do planejamento dos casais.


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