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Conservação do Solo

Escrito por José Valmei Bueno | Publicado: Segunda, 14 de Abril de 2025, 16h25 | Última atualização em Segunda, 14 de Abril de 2025, 17h10 | Acessos: 247
Servidores e estudantes fazem abertura de terraços, na Fazenda-Escola do Campus Inconfidentes (Foto: Divulgação)
Servidores e estudantes fazem abertura de terraços, na Fazenda-Escola do Campus Inconfidentes (Foto: Divulgação)

15 de abril: Conservação do solo e tecnologias emergentes na busca de um futuro sustentável

No dia 15 de abril, o Brasil celebra o Dia Nacional da Conservação do Solo, data instituída pela Lei Federal nº 7.876/1989 em homenagem a Hugh Hammond Bennett, pioneiro norte-americano que revolucionou os estudos sobre conservação dos solos. Essa celebração, mais do que um marco simbólico, reforça a urgência de enfrentar um cenário global alarmante: dados da FAO apontam que entre 30% e 33% dos solos do mundo encontram-se degradados. No país, a situação se agrava com problemas como erosão, desertificação e contaminação por agrotóxicos, ao ponto de áreas mal manejadas perderem até 10 toneladas de solo por hectare/ano, enquanto 13% do Nordeste enfrenta processos avançados de desertificação.

O Solo: pilar da vida e da sustentabilidade

O solo vai muito além de ser o substrato da produção agrícola. Ele atua como filtro natural da água, regulador do clima e abriga microrganismos essenciais à manutenção da fertilidade. “O segredo da vida é o solo, porque dele dependem as plantas, a água, o clima e nossa existência. Tudo está interligado”, ressalta a renomada agrônoma Ana Maria Primavesi. Essa visão dialoga com a máxima de Bennett – “o solo não é herança de nossos pais, mas empréstimo de nossos filhos” – e coloca em evidência a responsabilidade intergeracional de preservar esse recurso finito.

Desafios e impactos na realidade brasileira

A degradação dos solos não escolhe fronteiras, mas seus efeitos são particularmente severos no Brasil. O uso intensivo de agrotóxicos, que posiciona o país entre os maiores consumidores globais, a expansão desenfreada da monocultura e o desmatamento acelerado comprometem a biodiversidade e a saúde dos solos. No Cerrado, a conversão da vegetação nativa em pastagens e cultivos, como a soja, favorece a erosão, enquanto em regiões de encostas, principalmente no Sul, o manejo inadequado intensifica os deslizamentos e a perda de nutrientes. Em ambientes urbanos, a impermeabilização – que, segundo o IBGE, atinge cerca de 70% das áreas metropolitanas – agrava enchentes e fomenta desastres ambientais, ressaltando que os desafios se estendem também para as cidades.

Respostas integradas: da tradição à inovação

Para reverter esse quadro desolador, iniciativas públicas e privadas vêm integrando práticas tradicionais com tecnologias emergentes. Programas como o PronaSolos e o Cadastro Ambiental Rural (CAR) têm mapeado e regularizado áreas prioritárias para a recuperação do solo. No campo, a agroecologia e os sistemas agroflorestais estão ganhando espaço, como na Bahia, onde agricultores combinam cultivos – tais como café, mandioca e espécies nativas – para recuperar áreas degradadas. Técnicas consolidadas, como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), demonstram como produtividade e sustentabilidade podem caminhar juntas.
Paralelamente, inovações tecnológicas estão transformando a forma de monitorar e recuperar os solos. Drones equipados com câmeras multiespectrais realizam mapeamentos precisos das áreas vulneráveis à erosão, enquanto sensores IoT coletam, em tempo real, dados cruciais sobre umidade, temperatura e compactação. Esses dados são processados por sistemas de inteligência artificial, que correlacionam informações climáticas e de vegetação, permitindo a previsão e a intervenção rápida em áreas críticas.
No campo da biotecnologia, o emprego de bioinsumos – fertilizantes orgânicos derivados de microrganismos benéficos – vem restaurando a matéria orgânica e a fertilidade dos solos empobrecidos. “A tecnologia não substitui o conhecimento tradicional, mas o potencializa”, afirma o engenheiro agrônomo Carlos Ribeiro, evidenciando que a sinergia entre inovação e saberes ancestrais pode redefinir as práticas agrícolas. Além disso, a robótica para intervenções localizadas aliada ao uso do blockchain para assegurar a rastreabilidade dos processos produtivos contribuem para a transformação sustentável do agronegócio.

Políticas públicas e o compromisso coletivo

A discussão sobre o Plano Nacional de Recuperação de Solos Degradados e outras iniciativas governamentais revela a necessidade de ações integradas envolvendo o setor público, privado e a sociedade civil. A educação ambiental, o incentivo à agricultura familiar e o consumo consciente figuram como pilares para a transformação do ciclo de degradação em regeneração. Conforme pontua o Prof. Cleber Kouri de Souza, “resgatar práticas tradicionais é preservar segredos de múltiplas gerações que conhecem a fundo a resposta da terra ao cuidado”. Esse compromisso coletivo é vital para garantir água limpa, alimentos saudáveis e o equilíbrio climático, pilares indispensáveis para um futuro resiliente.

Um caminho para um futuro sustentável

Em meio aos desafios e às inovações, a conservação do solo se apresenta como a base para a sustentabilidade global. A integração de políticas públicas eficazes, tecnologias de ponta e a valorização do conhecimento tradicional formam um pacto necessário para transformar a degradação em regeneração. Proteger a terra é, enfim, garantir o bem-estar presente e o legado para as futuras gerações. Como bem expressou Bennett, “o solo é a base de toda a vida – tratá-lo com respeito não é opção, mas obrigação.”

 

Por:
Enrico Rossini Gill*
Ingrid Fernanda Martins Lanzi*
Larissa Paronetti Galo*
Maicon Douglas Batista da Silva*
Marcelo Del Fiore de Araújo*
Cleber Kouri de Souza** 

* Membros do Grupo de Estudo, Pesquisa, Extensão e Inovação em Solo e Agricultura de Precisão

** Coordenador do Grupo de Estudo, Pesquisa, Extensão e Inovação em Solo e Agricultura de Precisão


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